Comportamento alimentar de Helicops hagmanni Roux, Serpente Amazônica na Amazônia, 1910 (Reptilia: Squamata: Colubridae: Hydropsini)
ABSTRATO
Atualmente, o gênero Helicops compreende 15 espécies, das quais onze ocorrem na Floresta Amazônica. H. hagmanni se alimenta de peixes e tem hábitos noturnos, mas dados detalhados sobre sua dieta e ecologia comportamental são escassos. Aqui, relatamos um espécime feminino de H. hagmanni (comprimento do focinho: 516 mm; peso: 162 g) predando um peixe adulto, Rhamdia muelleri (Actinopterygii: Heptapteridae, 215 mm de comprimento total; peso: 70 g), no riacho Caquajó, afluente do rio Anapu, município de Portel, estado do Pará, Brasil. Encontramos a cobra submersa a 20 cm, enrolada em torno do peixe e logo depois disso, começamos a ingerir o peixe de cabeça. A cobra atacou o peixe-gato mordendo a região entre as barbatanas anal e pós-anal. Esta informação aumenta o conhecimento sobre o comportamento alimentar de cobras, principalmente do gênero Helicops.
Palavras-chave: Cobras d'água. Helicops. Predação. Peixe-gato. Rhamdia muelleri.
RESUMO
O gênero Helicops inclui, atualmente, 15 espécies, das quais ocorre uma floresta amazônica. Helicópteros hagmanni se alimentam de peixes e apresentam hábitos noturnos, mas dados detalhados sobre seu comportamento alimentar e ecologia são escassos. Neste trabalho, registramos H. hagmanni (fêmea adulta; comprimento rostro-cloacal: 516 mm; massa: 162 g) predando um peixe adulto, Rhamdia muelleri (Actinopterygii, Heptapteridae; comprimento total: 215 mm; massa: 70 g), sem igarapé Caquajó, rio Anapu, município de Portel, estado do Pará, Brasil. Encontrou uma serpente submersa de 20 cm, registrada sobre uma presa, em seguida, começou a ingerir-lo no sentido ântero-posterior. Uma serpente atacou o peixe-gato mordendo uma região entre o ânus e as nadadeiras anais. Essas informações ampliam o conhecimento sobre o comportamento alimentar das serpentes, especialmente do gênero Helicops.
Palavras-chave: Serpente aquática. Helicops. Predação. Peixe-gato. Rhamdia muelleri.
O gênero Helicops (Colubridae) compreende 15 espécies de serpentes aquáticas distribuídas pela América do Sul cis-andina, da Colômbia à Argentina. Onze dessas espécies ocorrem na floresta amazônica (Rossman, 1970, 1973; Frota, 2005). Pouco se sabe sobre a ecologia e a história natural das espécies de Helicops e os estudos disponíveis estão concentrados em poucas localidades na Amazônia (Cunha & Nascimento, 1978; Duellman, 1978; Cunha & Nascimento, 1993; Silva Jr., 1993; Martins & Oliveira, 1998), caatinga (Vanzolini et al., 1980), pantanal (Ávila et al., 2006), Mata Atlântica (Sazima & Strüssmann, 1990; Marques et al., 2004; Marques & Sazima, 2004) e sul Brasil (Araujo & Ely, 1980; Sazima & Martins, 1990; Aguiar & Di-Bernardo, 2004; Franz et al., 2007).
A maioria das espécies de Helicops exibe hábitos noturnos, alimenta-se de peixes, girinos de anuros e lagartos (Cunha & Nascimento, 1978; Duellman, 1978; Vanzolini et al., 1980; Sazima & Martins, 1990; Sazima & Strüssmann, 1990; Cunha & Nascimento, 1993; Silva Jr., 1993; Martins & Oliveira, 1998; Marques et al., 2004; Marques & Sazima, 2004; Ávila et al., 2006), mas geralmente não são fornecidos detalhes sobre o comportamento predatório em relação ao tipo de presa (por exemplo, um peixe com espinhas nas barbatanas ou não). Sazima & Strüssmann (1990) relataram a eliminação de H. modestus Günther, 1861 de Geophagus brasiliensis (Quoy & Gaimard, 1824) (Cichlidae) e Astyanax scabripinnis (Jenyns, 1842) (Characidae) no campo no sudeste do Brasil. Lema et al. (1983) relataram um evento de canibalismo entre os recém-nascidos em cativeiro H. infrataeniatus Jan, 1865.
As informações sobre comportamento alimentar e alimentar de Helicops hagmanni são escassas. Essa espécie se alimenta de peixes e alguns autores sugeriram que é principalmente noturna (Cunha & Nascimento, 1978, 1993; Silva Jr., 1993; Martins & Oliveira, 1998). Neste trabalho, apresentamos uma observação de Helicops hagmanni atacando um peixe-gato, Rhamdia muelleri (Günther, 1864), no campo.
Em 9 de setembro de 2007 às 23:00 h, no riacho Caquajó (1 a 57 '36 "S, 51 ou 36' 55" W; 20 m de altitude) do lote do Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio), rio Anapu, Floresta Nacional de Caxiuaná, município de Portel, estado do Pará, Brasil, encontramos uma fêmea adulta Helicops hagmanni (516 mm de comprimento de focinho e 162 g de peso) submersa em água a uma profundidade de 20 cm, que caçava um peixe-gato adulto , Rhamdia muelleri (comprimento total de 215 mm e peso de 70 g).
A cobra apreendeu o peixe que morde o corpo posterior da presa entre as barbatanas anal e pós-anal (foi observada marca de mordida na R. muelleri após a captura), talvez evitando a espinha peitoral do peixe. Depois disso, a cobra segurou a presa com bobinas horizontais anteriores, semelhante ao que foi observado em outras cobras colubridas, segundo Willard (1977) . Posteriormente, a cobra estendeu a constrição até a área de opérculo do peixe-gato ( Figura 1B ). Posteriormente, a cobra examinou o corpo da presa e o engoliu ( Figura 1C ), iniciando a ingestão de cabeça ( Figura 1D ). Aguiar & Di-Bernardo (2004) relataram, com base no trabalho de campo, que 92% das presas proporcionalmente grandes ingeridas por H. infrataeniatus (principalmente adultos) foram orientadas e engolidas de cabeça.
Greene (1997) apontou que presas grandes ou presas com um aparelho defensivo (espinhos) requerem algumas manobras antes da deglutição. Concluímos que H. hagmanni avaliou a melhor maneira de engolir sua presa, provavelmente devido ao aprendizado ontogenético, levando em consideração a presença de espinhas peitorais e o tamanho proporcionalmente grande do peixe (Murphy & Campbell, 1987; Sazima & Martins, 1990 ) Os espinhos peitorais poderiam obstruir a ingestão se a presa fosse orientada pela cauda primeiro, o que resultaria em danos ao trato digestivo, causando lesão e até levando à morte (Aguiar & Di-Bernardo, 2004).
São necessárias mais observações de campo sobre o comportamento alimentar de Helicops e outras cobras d'água para aumentar nosso conhecimento sobre como essas cobras capturam e se alimentam de suas presas.
Ambos os espécimes foram depositados nas coleções herpetológica (MPEG 22403) e ictiológica (MPEG 13408) do Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém, Pará, Brasil.
RECONHECIMENTOS
Agradecemos a Marinus S. Hoogmoed e Wolmar B. Wosiacki pela identificação de espécies de serpentes e peixes, respectivamente. Agradecemos também a Adriano O. Maciel; Diogo B. Provete; Gleomar Maschio e Pedro Peloso pela leitura crítica do manuscrito. Agradecemos também ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis pelas licenças de coleta e transporte de cobras (no 02001.001490 / 2006-81) e peixe (no 02001.001486 / 2006-12) e do Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio) ) pelo apoio financeiro da expedição e pelo fornecimento de estruturas de campo.
REFERÊNCIAS
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Endereço de correspondência:
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